18 setembro 2007

O experimento

Impelido por um obsessivo desejo de desafiar o limiar da consciência e da sanidade mental, nem mesmo o medo de perder a alma poderá impedir o mais tenebroso dos experimentos.

A noção de alma (nefesh) identifica-se aqui com a totalidade do ser humano ilinear, tanto no seu referencial psíquico/transcendente como no seu referencial físico/social. Perder a alma é perder-se de si mesmo e vaguear pela vida sem rumo. Perder a alma é cegar subitamente e cair no abismo da demência sem lhe conseguir adivinhar o fundo.

Sustendo a respiração pela duração daquele breve instante de vertigem que antecede a iminente queda - desafiando o cansaço extremo prolongadamente ébrio - é possível abarcar toda a expressão da ilinearidade humana no seu estado mais impetuoso. Por um momento tudo aquilo que estava oculto se revela a uma alargada mas desfocada e efémera percepção. As mais profundas e violentas pulsões libertam-se de forma quase irracional à medida que os vários níveis de consciência se vão aproximando e fundindo numa animalesca sensação de si.

Ainda assim, a sensação não dura mais que um breve piscar de olhos. Escapando uma vez mais à sedução do abismo tudo terminará em desfalecimento e sono letárgico...

04 setembro 2007

A cidade

Enclausurado por esta incapacitante impossibilidade de despertar verdadeiramente, o próprio espaço parece estreitar-se claustrofobicamente em meu redor. Com os olhos semi-cerrados caminho despido pelo lado escuro das ruas ocultando-me do sol ardente.

Tudo me parece transitório e artificial: as pessoas são como invólucros de nada, as casas são meras aquarelas na tela e a consciência nada mais é que a percepção de sonhar acordado.

Quero escapar-me para a planície à penumbra dourada do sol poente e ficar...