03 maio 2007

O medo

À mercê da rebentação da corrente, a escassos metros da areia, quando sopra o poderoso vento quente do Levante, joga-se a vida a cada vaga que sobre nós explode num milhão de gotas de espuma branca. O que é que te separa de seres despedaçada contra aquelas rochas mais além a não ser... o medo?

Submersos no sistema somos como esse náufrago que, a escassos metros da terra firme, avista já bem perto as pontas assassinas que o hão-de despedaçar. Ainda assim, impelido pelo medo de ser esquecido e pelo medo de expirar sem ter possuído para si, apenas por um instante, um pouco da plenitude de ser completo, luta heroicamente até ao seu último sopro de vida...

Mas então porque é que intuitivamente sei, e com tanta certeza, que há algo que aqui me escapa? Afinal, onde está a ilinearidade, a possibilidade de me manter à tona e vogar eternamente ao sabor da maré?

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